Estamos praticamente na metade da segunda temporada de The Handmaid's Tale, que finalmente fez um breve, mas explosivo desvio para a vida do Comandante Waterford. No início do episódio desta semana, enquanto os trabalhadores estão finalizando o projeto de construção que ele está supervisionando - um imponente novo centro de treinamento para aias que será chamado de Centro Raquel e Lia, nada mais é do que um novo Centro Vermelho - em meio aos cruzamentos de caminho com Tia Lydia, que fiscaliza sua nova “escola”. “A dinâmica entre uma esposa e uma aia grávida é sempre desafiadora”, Lydia diz a ele. "Mas me perdoe dizer: Você foi abençoado com uma dupla [June e Serena] particularmente perfeita."

Se pararmos para pensar na observação de Tia Lydia da semelhança entre Offred e Serena Joy, isso é realmente válido, a julgar pelo passado das duas. Apenas alguns anos atrás, ambas eram formadas, casadas, mulheres bem empregadas de classe média e quase da mesma idade. Elas até gostaram do mesmo restaurante, um brunch - restaurante hippie que servia omelete liberado, comentado na bizarra comemoração que Serena fez para cortejar a lealdade de Offred. Além da semelhança demográfica, elas compartilham o orgulho, a teimosia e o foco em alcançar seus próprios objetivos.

As duas também representam uma variação particular dos arquétipos de Raquel e Lia. O grupo que derrubou o governo dos Estados Unidos e fundou Gilead era chamado de Filhos de Jacó, e a história bíblica de Jacó é muito parecida com a da nova nação totalitária. Foi sua esposa infértil, Raquel, que ofereceu uma aia para ter seus filhos, um ato perverso de fé que deu às escravas sexuais de Gilead tanto o precedente cristão quanto o nome.

Mas Raquel não foi a primeira ou única esposa de Jacó. Ele passou sete anos trabalhando para seu pai, Labão, antes que o pai da noiva concordasse com o relacionamento - e, depois de todo esse trabalho, Labão furtivamente colocou Jacó com sua filha mais velha e menos atraente, Lia. Sorte para o apaixonado Jacó, a bigamia com resquícios de incesto não era um tabu nos tempos bíblicos, e Labão finalmente entregou Raquel a ele como uma segunda esposa, em troca de mais sete anos de servidão. Lia provou ser muito mais fértil do que sua irmã, dando ao marido quatro filhos logo que seu casamento foi consumado.

Se você esquecer que Elisabeth Moss não é a irmã mais velha e feia de ninguém, June é tanto a Lia quanto aia da privilegiada, mas estéril, Raquel, vulgo Serena. As irmãs eram rivais e, como Serena e Offred não são parentes de sangue, suas personalidades obstinadas, o ressentimento mútuo e o lar compartilhado, o parceiro sexual e os futuros filhos tornam sua relação algo próximo do familiar. (A esposa de Nick, de 15 anos de idade, Eden, também é uma espécie de Lia: forçada inconscientemente a ficar com um marido, ela é a única mulher na casa de Waterford que deve servir tanto como cônjuge quanto como mãe biológica.)

É o futuro bebê que traz Offred e Serena juntas no episódio. Notavelmente saudável após a hemorragia e queda de Offred, o feto aparece em um ultrassom no consultório médico, e Serena puxa a tela que separa as duas para que Offred pudesse ver. Moss e Yvonne Strahovski, que merecem mais crédito por sua performance minuciosa, transmitem perfeitamente a intensidade e a ambivalência dessa cena. As queixas de Offred são evidentes. Serena, que não é boba, certamente sabe que a maternidade iminente é um ato de sequestro. Mas, por um momento, a gravidez as une. Olhos brilham, observando a pequena criatura que ainda pertence a ambas.

A trégua delas continua em casa, onde Serena leva Offred para a sala de estar e se dá um encontro bem estranho. Serena, que presumivelmente nunca terá um filho, pergunta à sua aia: "Como é sentir a vida dentro de você?".

Um flashback de antes de Gilead sugere o quão emocionante é saber que pode ter um filho para Serena. Ela e Fred chegam a uma faculdade onde Serena foi convidada para falar sobre um assunto que é amigável aos dois: a necessidade de mulheres férteis procriarem. Mesmo antes de subir ao palco, os manifestantes acenam com sinais de resistência e chamam-na de nazista. Enquanto isso, homens na plateia falam insultos misóginos. É uma cena que nos lembra muito o Brasil atual, de um lado Serena disposta a abdicar os direitos das mulheres, do outro a plateia brigando entre si – prepara que tem matéria especial durante a semana sobre isso.

Vaiada no palco, Serena enfrenta uma multidão de estudantes eufóricos na saída do prédio: "O futuro da humanidade depende do que fazemos hoje", ela grita para a multidão. "Abrace seu destino biológico!" Então ela leva um tiro. Apesar do pedido de Waterford de que ela se despeça de falar em público, Serena está determinada a aproveitar o momento. "As pessoas estão ouvindo agora", ela insiste na cama de hospital, enquanto também o repreende para "ser um homem". Mais tarde Fred aparece na mata ameaçando o homem já capturado, que cometeu o atentado à Serena, antes de tudo, o Comandante mata o que parece ser a esposa do atirador. O que parecia ser uma história sobre como uma mulher inteligente e durona sofreu por crenças que mais tarde a silenciaram repentinamente se torna uma demonstração de quanto mais forte Serena é do que seu marido, e quão implacavelmente ela luta para conseguir o que quer. 

A cena espelha uma troca entre ela e Offred no presente. Serena leva a aia até o quarto do bebê que está decorando e promete: “Eu vou ser a melhor mãe que posso ser para meu filho”. Offred aproveita a oportunidade para perguntar, mais uma vez, se ela pode ver Hannah. Imediatamente a aia recebe um "não" e a aliança é quebrada.

Logo, Serena reclama com Fred que Offred é "desonesta". É uma acusação de uma oportunista e manipuladora de emoções. Não há dúvida de que Serena faria os mesmos movimentos articulados se estivesse no lugar de Offred. Agora você pode se perguntar: como Offred trataria Serena se suas posições fossem invertidas?

Enquanto Waterford revela o novo Centro Raquel e Lia ao mundo, Ofglen - uma das muitas aias colocadas como produto do lado de fora do prédio - explode o lugar. A explosão que vem pouco antes dos créditos finais parece grande o suficiente para acabar as dezenas de Comandantes de Gilead.

Pouco antes da abertura do Centro vermelho, Nick interrompe o Comandante Pryce na entrada e implora para ser transferido. Nick menciona que Waterford fez algumas coisas que não contou, mas não especifica. "Me prometa que vai proteger a aia", implora ao superior, e Pryce concorda. Nick presumivelmente sobrevive a explosão, ao menos o vemos voltar para o carro.

Texto escrito para The Handmaid's Tale Brasil, reviews sempre as quartas, mesmo dia da entrada do episódio no catálogo do Hulu. Então, você percebeu algo que não está esclarecido aqui nessa review? Tem algo a acrescentar? Comente abaixo sua opinião sobre o episódio.