Feminismo THT

O universo apresentado pela série nos remete a um universo totalitário, teocrático e repressivo, no qual as maiores vítimas dessa repressão são as representantes do sexo feminino.

Sob uma ótica que permeia o senso comum, sem nenhuma leitura crítica social, chega a ser normal percebermos mulheres como seres socialmente inferiores, sem que isso seja admitido de fato.

As coisas apenas são desse jeito.

Existe uma ideia não declarada que esses seres não são plenos, são incompletos e que precisam de diretrizes as quais servem um bem maior, que sirva à sociedade, aos outros antes de pensar em si mesmas.

Como uma espécie de utensílio que visa o cumprir de um objetivo.

Isso soa familiar?

Vários dirão que isso é um exagero sem tamanho. Que nunca as mulheres, ao menos as ocidentais, são tratadas como objetos.

Imagine! Isso é coisa de outro lugar, outro mundo! Isso é coisa da Idade Média.

Falando de Brasil, temos uma cultura enraizada que relega à grande parte das  mulheres a posição de objeto. Existem exemplos? Mas claro que sim! Temos músicas, histórias, enredos, programas,a própria publicidade que coloca a mulher em posição de objeto, para  servir uma necessidade visual, de deleite, de comer com os olhos. Comer, ser consumida mesmo sem ser tocada.

Também vivemos em uma sociedade na qual não se proíbe expressamente uma mulher de exercer certas atividades, contudo uma certa censura e uma culpabilização sempre aparecem de um modo ou de outro.

No livro de Margareth Atwood que inspirou a série, o comandante Fred culpa as mulheres por aquela situação, quando dá a entender que com a sua independência  sexual, os homens ficaram sem nada mais a perseguir.

“O problema não era só com as mulheres [...] O problema era com os homens. Não havia nada mais para eles. [...] É difícil ter medo de um homem que está observando você passar loção nas mãos. Essa falta de medo é perigosa.”

The Handmaid’s Tale mostra como uma sociedade que declara abertamente a função das mulheres como parideiras, serviçais ao bem maior pode surgir. A reificação (transformação em coisa/objeto) pode fazer com um ser humano e com um conjunto deles.

Entretanto, onde o feminismo entra?

A própria Atwood declarou que sua obra não era feminista, utilizando um senso comum no qual ela declara que um movimento que coloca mulheres como vítimas eternas não é representado em suas histórias.

O feminismo não é isso. Felizmente.

E nem as histórias de Margareth Atwood e muito menos The Handmaid’s tale, no qual o objetivo de June é sobreviver e ela luta pra isso.

O feminismo como movimento vem para isso, nos mostrar como lutar e por que.

Porque é realmente muito desolador quando se percebe que o mundo conspira para que você fique em apenas uma posição.

A de objeto.

Então, que sejamos a resistência.

Porque ela é necessária em todos os universos. Os reais e irreais.

Blessed be the Fruit e que essa fruta seja a nossa liberdade.

- Coluna "Mulher" em The Handmaid's Tale Brasil, por Renata Dias. As opiniões da colunista não necessariamente refletem a opinião do site.