O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios inimigos, pois é justamente essa a base de grandes catástrofes. Em The Handmaids Tale com as esposas, nada poderia cair tão bem. A frase de Simone de Beauvoir em seu livro O Segundo Sexo surge de uma análise sobre a hierarquia social entre os homens e as mulheres, que aponta que na sociedade as mulheres contribuem ativamente para a manutenção do machismo e o paralelo também vale para Gilead. 

Como já vimos (pode conferir nesse link), elas são tão subpessoas quanto as Aias e as Marthas e nessa segunda temporada se descobriram assim. Agora o questionamento é, essa consciência será o necessário para transforma-las na resistência? 

Não sabemos. A questão não parece ter uma resposta mais fácil, já que as esposas não são um grupo tão unido como as Aias ou as Marthas, por elas terem um pouco de poder (ou a ilusão) elas são solitárias em seus próprios castelos. 

Antes de entender o porquê a resposta é tão imprecisa, vamos entender o quão frágil os direitos femininos são. Seja para as Aias, as esposas ou para nós hoje em dia. Qualquer situação minimamente grave pode fazer com que esses direitos sejam suspendidos, crises políticas, guerras, eles são os primeiros a cair. 

A partir disso, o primeiro impedimento é o medo. Medo que elas possuem de perder seus pouco privilégio. 

Parece algo extremamente egoísta e realmente o é, mas as motivações da maioria delas também é. Por exemplo, como Serena arriscaria perder sua posição? Arriscar-se à toa a ser uma Aia? Como aconteceu com a família que abrigou June nessa temporada? Então, elas têm algo para perder e, portanto, tem medo que isso aconteça. 

Outro fator que deve pesar para essa possível resistência é a crença religiosa que envolve todo o jogo de poder em Gilead. 

Nem todas as esposas são como Serena, que por motivações egoístas resolveu ajudar Gilead. Algumas realmente acreditam no caráter divino das cerimônias e na superioridade masculina é clara e real. E essa dominação é a mais difícil de romper. 

Em algumas situações essa crença se repete, inclusive na sociedade atual. Com a pouca inserção feminina na política, mesmo conosco sendo metade da população nos faz aceitar assim como The Handmaids Tale a palavra e as decisões daqueles que não nos representam de verdade. Contudo, assim como na série para alcançar algum resultado, também precisamos das cúmplices entre nós. 

Então as esposas serão a resistência? 

Talvez, por puro desejo de mais poder ou medo de que comecem a ser diretamente afetadas por Gillead. Não será nada heroico ou altruístas, é importante aceita-las como opressoras também. 

E seja como for à luta não será fácil. Afinal não há salvação individual.