Foto: Laura Theodosio/Reprodução

Quando o livro The Handmaid's Tale foi lançado em 1985 ninguém imaginaria, talvez Margaret Atwood sim, que a história e toda a simbologia serviriam como inspiração para centenas de protestos ao redor do mundo. Com a popularização da série do Hulu em 2017 esses movimentos chegaram até ao interior do Brasil.

No último dia 29, um grupo de mulheres se organizou na cidade de Rio Grande (RS) em uma performance vestidas de aia pelas ruas protestando "contra o Bolsonaro, que em seu projeto politico representa uma candidatura fascista, misógina e machista", segundo líderes do movimento.

Já na última sexta, dia 5, conversamos em uma entrevista com o grupo sobre as motivações e desafios enfrentados no decorrer do movimento. Confira a entrevista completa abaixo: (respostas de Karina Macedo em conjunto com o grupo de mulheres do movimento)

HandmaidsBrasil.com - No que se inspirou o movimento de vocês, além da série?

O nosso movimento foi inspirado pela articulação nacional das Mulheres unidas contra o Bolsonaro, que em seu projeto politico representa uma candidatura fascista, misógina e machista. A performance foi uma consequência de uma mobilização espontânea  das mulheres da cidade de Rio Grande, e tem a influência direta das vivências das pessoas envolvidas na luta politica através da arte.  

HandmaidsBrasil.com - Como foi formado o grupo de mulheres? Há alguma entidade envolvida?  Alguma pessoa específica que teve a ideia?

A articulação em Rio Grande do ato do dia 29 se deu de forma espontânea coletiva e horizontal, numa pluralidade de mulheres sem entidades envolvidas. A organização se deu através de comissões em três reuniões presencias. Nas discussões que envolviam a comissão de cultura surgiu a proposta da performance feminista The Handmaid’s Tale, trazida por Angelina Oliveira que devido ao seu trabalho com produção cultural já se envolvia com a simbologia desta série.

HandmaidsBrasil.com - Qual o sentimento ao estar protestando com essa roupa com tamanho significado?

Durante todo o percurso da performance os sentimentos que emanaram foram muitos, dentre eles o medo e o alerta.  Mas o que mais perpassou o movimento, foi a sensação de responsabilidade trazida pela simbologia cristalizada nas roupas que caracterizam a série. Por termos entendimento do peso que tem para as mulheres viverem sob o jugo de um governo fascista, totalitário e misógino. Ponto de encontro entre a distopia apresentada, e a realidade iminente vivida pelas brasileiras caso Jair Bolsonaro seja eleito.

HandmaidsBrasil.com - Houve resistência ou algum tipo de preconceito das pessoas nas ruas com vocês por estarem usando uma roupa diferente do habitual ou até mesmo preconceito pelo que vocês estão lutando?

Sim, a resistência começou muito antes do movimento chegar às ruas. O primeiro momento que sentimos o peso do fascismo, foi quando dentro da própria organização do ato, fomos vítimas do medo que esse sistema impõe ao desconhecido, à arte e à cultura. Num segundo momento experienciamos a tensão, o medo, e a hostilidade nas ruas. Expressadas através de gritos, xingamentos e palavras de ordem dizendo "Bolsonaro sim".

HandmaidsBrasil.com - Pelo que o grupo protesta? Há mais de uma causa envolvida?

O grupo protesta contra o patriarcado, a misoginia, o sexismo, o machismo, o racismo, a xenofobia, a transfobia, a lbgtq+fobia, o facismo e todas as opressões personificadas na figura de Jair Bolsonaro.

HandmaidsBrasil.com - As eleições aqui no Brasil, bem como vários outros movimentos que envolvam as massas estão bastante polarizadas e por vezes violentas, como vocês lidam com isso? Causa algum medo? Chega ao ponto desse medo redimir vocês?

Compreendemos o peso histórico do momento político atravessado pelo Brasil e a América Latina como um todo. Por isso o medo que sempre esteve presente em nossa ação, foi usado enquanto potência criativa para nos posicionarmos em resistência a essa polarização improdutiva que invade o cenário político atual. 

HandmaidsBrasil.com - Em quantas e quais ocasiões vocês já saíram vestidas de aia? Pretendem continuar em outros eventos que seja necessário?

Esta foi a nossa primeira intervenção performática. A partir dessa experiência percebemos a relevância de seguirmos articuladas e mobilizadas para organização e construção de futuras ações necessárias nesse cenário de retrocesso e retirada de direitos.

Confira abaixo fotos das manifestações (Laura Theodosio/Reprodução)










- Entrevista realizada para o The Handmaid's Tale Brasil, por Marcos Snigura. As opiniões da entrevistada não necessariamente refletem a opinião do site.