A titia preferida de todos não está morta. Ann Dowd, como já revelamos, disse que ela voltará nas gravações da terceira temporada de The Handmaid's Tale em outubro. Mesmo Tia Lydia sendo propensa a ser caricata, graças ao desempenho magistral de Dowd, a personagem fica distante disso. É uma crente devota que tem certeza que a maneira de salvar o mundo é ter as aias - depois de serem reformadas pelas tias - repovoando um mundo acabado. Qualquer coisa que ajude a alcançar esse objetivo está propensa a ser usada contra as aias.

"O melhor é que, no final das contas, ela não obedece a um homem", disse Dowd. "Agora, os comandantes estão no 'comando'". Eu digo isso entre aspas - ela não responde a eles. Ela pode liderá-los melhor do que eles podem se guiar."

Em uma entrevista por telefone com o The New York Times, ela discutiu o que motiva a Tia Lydia, sobre o controverso final da segunda temporada e como uma longa e desafiadora saga familiar de sua própria vida a ajudou a entender escolhas. Confira a entrevista editada pelo The New York Times e traduzida pela equipe do The Handmaid's Tale Brasil.

Entrevistador NYT: Você já teve quase um ano para processar, tendo ganho um Emmy pelo seu trabalho em The Handmaid's Tale. Como foi isso?

Ann Dowd: Ser nomeada é uma coisa emocionante. Por ter vencido no ano passado - nunca vou superar isso. O choque foi profundo, a gratidão foi profunda, eu nunca vou esquecer tudo isso. Tudo é emocionante. Não tenho palavras. As coisas que me rodeiam são muito boas. O figurino, a imprensa, indo para o evento em si é a coisa mais esmagadora que eu já experimentei.

Entrevistador NYT: Seu discurso [na cerimônia do Emmy] foi bom.

Ann Dowd: Obrigada. Fiquei muito atordoada e posso dizer que fui sincera e grata. Tudo vem antes de você - todas as pessoas que ajudaram, o apoio que tive dia após dia, por anos, quando não podia nem pagar o aluguel. Quando eu estava grávida do meu primeiro filho, eu tinha 35 anos e estava trabalhando em um pet shop.

Entrevistador NYT: Offred fez algumas escolhas controversas no final da segunda temporada, dando a filha recém-nascida para Emily e permanecendo em Gilead. Você acompanhou todo o debate que aconteceu na internet sobre isso?

Ann Dowd: Eu não acompanho essas coisas, mas minha filha estava extremamente chateada. Ela disse: "Por que Offred não foi embora? Ela poderia ajudar a filha do outro lado." Eu disse a ela: "Escute, se você é mãe e tem uma criança pequena que é vulnerável, é muito difícil deixá-la." Se eu tivesse a escolha de deixá-la ou não deixá-la, eu nunca sairia. Eu não poderia. Ficaria porque a presença física importa. Há outros do outro lado [pelo bebê]. Para Offred, há uma criança que permanece vulnerável, ela não pode e não vai sair. Isso fez todo sentido para mim, emocionalmente.

Entrevistador NYT: Eu tenho que admitir, não fez sentido ela dizer "Chame-a de Nichole", referindo-se ao nome que Serena deu para a criança.

Ann Dowd: O que aconteceu entre Serena Joy e Offred foi profundo no sentido mais verdadeiro. Nada do que estivemos vivendo nos prepararia para o momento em que Serena diz: "Pegue a bebê." Era seu bebê, era seu orgulho e alegria. Ela planejou, esperou e se desesperou. Então ela se fez como uma mãe para a bebê, uma mãe verdadeira. Ela percebe que neste lugar, a filha nunca vai prosperar, nunca vai se conhecer. Fiquei muito comovida com o fato de Serena Joy permitir que isso aconteça. Offred entendeu que na parte mais profunda dela, o que acabou de acontecer, é como um perdão. O perdão em alguns casos é um milagre, no sentido de que você está lutando e de repente algo acontece. É uma espécie de graça. Quer você acredite em Deus ou não, algo acontece e é transformador. Só Deus sabe onde a bebê estaria se Serena não tivesse desistido dela. Vamos dar a Serena Joy parte disso, e chamá-la de Nichole.

Entrevistador NYT: Falando em perdão, se você fosse uma aia, poderia perdoar Tia Lydia por algumas das coisas que fez?

Ann Dowd: Isso é notável. Acontece entre duas pessoas. Isto é, Serena Joy fez algo extraordinário. Ela devolveu a bebê. Não era para Offred fazer isso sozinha, era entre as duas. Vou te dar uma analogia pessoal. Meu filho mais novo tem 13 anos. Eu adotei ele aos nove meses. O negócio era que ele volta para a mãe quando a mãe termina suas coisas, sejam eles quais forem. Sua mãe estava profundamente ciumenta e com raiva de mim desde o começo. A maneira como ela falava comigo e me tratava com meus filhos, e as coisas que aconteciam entre nós eram inacreditáveis. Em um ponto, eu não o via há um ano, ela não permitiria [uma visita]. Nós planejamos uma grande festa, balões, tudo. Ela nunca iria aparecer. Tempo após tempo. E porque nós amamos a mesma criança, eu a amo. Eu a amo profundamente. O que eu estou dizendo é que algo sobre o amor de uma criança como Serena e Offred tinha para aquela bebê - é a base sobre a qual os milagres acontecem. E por milagres quero dizer perdão e amor. Qual é o que acho mais forte? Agora, se Lydia não mudasse seus modos ou visse a luz ou algo assim, seria muito difícil alguém perdoá-la. Mas eu penso, onde há amor e onde há algum nível de verdade, tudo pode acontecer. Eu posso ver os paralelos da série - a ideia de lutar por uma criança.

Entrevistador NYT: Eu acredito que Lydia ama profundamente esses bebês. 

Ann Dowd: Ela pode ser dura, mas também levou Janine ao hospital e permitiu que ela visse seu bebê. Eu acho que Lydia, em sua complexidade, tem uma boa leitura sobre como uma mãe e um filho prosperam. Ela sabe que, se um bebê está em apuros e não está prosperando, estar longe da mãe é provavelmente uma boa razão pela qual isso está acontecendo. Isso vai contra as regras de Gilead, obviamente. Ela está totalmente comprometida com o fato de que essas jovens aias levaram vidas imprudentes e, portanto, elas têm a chance de se redimir trazendo bebês para o mundo.

Entrevistador NYT: A Tia Lydia parece ter mais espaço para seguir uma rotina do que outras mulheres em Gilead.

Se você pensar naquelas primeiras reuniões nos porões da igreja, aquelas reuniões secretas antes de Gilead assumir, não acho que o que elas conversaram foram Comandantes vivendo em casas enormes com chás de bebê ridículos e uma absurda girafa de pelúcia para o quarto do bebê. Eu acho que eles falavam sobre uma vida simples e uma vida pura com a presença de Deus: "Podemos restaurar a bela Terra que você nos deu. Nós vamos encontrar uma maneira de trazer lindos filhos para este mundo." Ela vem para Gilead totalmente preparada para assumir seu papel, olha em volta e vê tudo isso fodido, perdoe minha boca. Ela tem sentimentos muito fortes sobre isso e sabe até onde ela pode ir. O poder não é o que a motiva ou prejudica outras mulheres.