A escassez de mulheres protagonistas na televisão tem sido uma problemática desde que a TV virou um aspecto cultural central da vida doméstica no mundo. As mulheres da geração da minha avó foram criadas com visões de dona de casa perfeita, onde a "mulher ideal" era uma combinação de cozinheira, faxineira, assessora e suporte para algumas palhaçadas dos homens. Não é de hoje que alguns programas tentam causar com suas discussões sobre igualdade salarial, mas agora temos dois programas mais importantíssimos do que nunca nesse quesito, Westworld e The Handmaid's Tale tornaram-se os hinos feministas que o mundo precisa, com protagonistas que adoramos.

Ambas os séries, agora em suas segundas temporadas - renovadas para a terceira -, fizeram o que seria impossível alguns anos atrás: colocar mulheres no comando de dramas que não são comercializados exclusivamente para as mulheres. Em conjunto com os sucessos do filme Girls Trip e Mulher Maravilha, Westworld e The Handmaid's Tale criaram séries onde os homens servem para desenvolver as mulheres, e não o contrário. No entanto, como cada programa retrata isso é drasticamente diferente, é importante distinguir sua dinâmica.

No final da primeira temporada do Westworld, fica claro que os criadores subverteram os gêneros que seriam fáceis para o programa funcionar. As mulheres centrais da série, Dolores (Evan Rachel Wood) e Maeve (Thandie Newton), começaram suas próprias revoluções e, se os primeiros episódios da segunda temporada forem uma indicação, suas batalhas serão mergulhadas em sangue e violência.

Enquanto Dolores e Maeve são integrantes do enredo, as duas não poderiam ser mais diferentes. Na versão do Westworld de mulheres do mundo real, as que trabalham para a empresa de inteligência artificial, como Charlotte (Tessa Thompson) e Theresa (Sidse Babett Knudsen), são todas líderes que são extremamente capazes em seus trabalhos e abertamente conscientes de seus próprios desejos sexuais. Já Dolores e Maeve são escravas sexuais de homens e mulheres em uma mundo aparentemente artificial.



É importante lembrar que Dolores e Maeve foram criadas por homens e, portanto, representam duas versões diferentes da mulher ideal do patriarcado. Dolores é doce, a mulher perfeita para namorar ou violar, passando a maior parte da primeira temporada assim. Enquanto os criadores de Maeve tentam rotulá-la de prostituta, é a lembrança da filha que a desperta. 

Voltando para nossa The Handmaid's Tale, June (Elisabeth Moss) engloba todos esses papéis de gênero em uma pessoa só. Ela é sexual, como demonstrado por ter tido um caso com seu marido Luke e ela se esbeira com o motorista Nick. Ela também é uma mãe, sua capacidade de ter filhos, claro, sendo um instrumento para o enredo, e ela é inteligente. Outra mulher que adoramos ver em The Handmaid's Tale é Emily (Alexis Bledel), a eterna ícone feminista de Gilmore Girls volta em um papel não tão doce assim. Na primeira temporada ela faz parte da Resistência, mas é na segunda temporada que toma a postura agressiva, principalmente no episódio dois.

Enquanto o patriarcado no mundo de Westworld tem mulheres nitidamente compartimentadas, em The Handmaid's Tale, cada mulher pode ser muitas coisas, e é em parte por isso que essas duas séries funcionam tão bem juntas.

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