Oito de março. O dia amado e odiado que alguns acham que é uma injustiça, uma prova da ditadura feminista e uma oportunidade de maravilhosas promoções pela metade do dobro do preço.

Aquele dia onde as mulheres tem descontos em alguns itens de beleza, livros e onde rosas começam a ser distribuídas sem restrições. Todas temos a chance de vir pra casa com uma florzinha e um bombom. Chocolate é maravilhoso. Super positivo.

Contudo, ainda somos um país super perigoso para mulheres viverem. Existem taxas altíssimas de violência contra a mulher e quando existe uma tentativa de tipificar essa violência chamam isso de femimimicídio.

Todos começam a escrever poemas maravilhosos sobre a delicadeza, beleza e humildade da mulher, embora se essa mesma mulher queira sair desses esteriótipos já não é mulher de verdade. Porque mulher de verdade é aquilo que não mexe com o status quo. Como o conto da Aia menos declarado.

A gente trabalha sim, mas não dá pra ganhar tanto, porque tem que ajudar o boy a pagar um boletinho ou outro e ainda gastar grande parte do salário em produto de beleza e não pode deixar o cara inseguro. O ganhar menos deixa a mulher no devido lugar. Uma migalhinha pra ficar feliz.



Tem que ter um bebezinho, no máximo dois porque se não é chamada de parideira. A gente mal pode escolher a quantidade de filhos que tem. Independência financeira sim, mas nem tanto. Ganhar mais que o marido pega super mal. Ter uma profissão típica de homens é terrível, você passa a lidar com vários boatinhos que sempre falam da maneira como provavelmente a suas habilidades ou disponibilidade sexuais alçaram-nas para aquele ponto. Só que toma aqui a florzinha pra esquecer esses boatos.

Temos tantas pessoas a nos definirem, a lutarem pela veracidade do feminino que cada vez que saímos desses grilhões a pressão é tanta que a gente quer voltar, mas ganhamos flor e bombom, então ok.

Ainda ganhamos menos, somos mão de obra mais barata e mais organizada, mão de obra descartável que quando vai pra entrevista de emprego tem que ouvir perguntas sobre o ciclo menstrual e a vontade de ser mãe. Nada a ver com habilidades profissionais, toma aqui uma flor pra esquecer desse constrangimento.

Ainda temos toda a pressão para sermos mães mesmo que isso signifique na prática um aumento expressivo do trabalho e barre a volta para o mercado, mas a gente ganha uma flor e às vezes um brinquedinho para a criança, não? Legal, inovador, respeitoso.

Não interessa se ainda somos vistas como objetos, seres inferiores, desumanizados que estão nesse mundo pra adornar e multiplicar.

Pega seu desconto na livraria, na farmácia, sua flor e seu bombom e não reclama.

Feliz dia internacional da mulher... Que de feliz... Só pra quem vende, não é mesmo?

- Coluna "Mulher" em The Handmaid's Tale Brasil, por Renata Dias. As opiniões da colunista não necessariamente refletem a opinião do site.