The Handmaid's Tale estreou em 2017, logo após a conturbada eleição presidencial dos Estados Unidos que colocou Donald Trump no poder, candidato da extrema direita que fez com que as comparações fossem feitas imediatamente em relação a perda de direitos das minorias.

Porém, a série The Handmaid's Tale não é baseada em uma história real, ao menos não diretamente. A primeira temporada foi filmada em 2016, o drama é classificado como ficção científica, estando ambientado em um futuro distópico onde um regime totalitário derrubou o governo dos Estados Unidos e criou a República de Gilead.

Mas o livro em que a série se baseia, O Conto da Aia de Margaret Atwood lançado em 1985, é inspirado em passagens reais de religião e política. Vamos detalhar mais um pouco.

O conceito de "aia" e muito da fundamentação de Gilead foram retirados da Bíblia

Uma das inspirações bíblicas é o conceito de usar aias para combater a infertilidade. Na série The Handmaid's Tale e no livro de mesmo nome, as mulheres são estupradas por homens de alto escalão e forçadas a terem filhos para os Comandantes e esposas.

As aias são treinadas pelas Tias no Centro Vermelho, também chamado de Centro Raquel e Lia. Essa é uma referência a uma história do Antigo Testamento, onde Raquel ofereceu sua aia Bila a seu marido Jacó. Bila deu à luz dois filhos na história.

Além disso, o grupo que derrubou o governo dos Estados Unidos em The Handmaid's Tale é conhecido como os Sons of Jacob, ou Filhos de Jacó em português - outro aceno para o conto bíblico.

As outras referências à Bíblia na série e no livro são as saudações cotidianas que as aias usam, como "Bendito seja o fruto" e "Que possa o Senhor abrir".

Como os julgamentos das bruxas de Salem inspiraram a história?

Atwood revelou que parte do livro foi inspirado nos julgamentos das bruxas de Salem, uma série de audiências em Massachusetts colonial durante a década de 1690.

Durante os julgamentos de Salem, 19 pessoas foram executadas por enforcamento após serem consideradas culpadas de feitiçaria - 14 das quais eram mulheres.

A autora já citou a história de Mary Webster como uma influência particular. Depois que um líder da igreja adoeceu na cidade de Hadley, os moradores locais acreditaram que sua situação era resultado de feitiçaria e culparam Webster. A mulher foi agredida fisicamente e enforcada como punição, quase sobrevivendo à sua provação.

Atwood disse em entrevista: "O Conto da Aia é dedicado a Mary Webster porque ela é um exemplo de uma mulher acusada injustamente. Mas ela é meio que um símbolo de esperança porque não conseguiram matá-la. Ela conseguiu."

Em The Handmaid's Tale as mulheres férteis restantes são forçadas a se tornar aias e mostram resiliência, como Mary Webster fez na vida real.

O que era o Plano Americano?

O Plano Americano - também conhecido como Lei Chamberlain-Kahn - foi uma lei controversa aprovada em 1918, destinada a combater a propagação de doenças sexualmente transmissíveis durante a Primeira Guerra Mundial.

O ato deu ao governo poder para deter qualquer mulher suspeita de ter uma infecção sexualmente transmissível, sem necessitar de provas pra isso. Nessa época, cerca de trinta mil mulheres foram detidas e examinadas, apesar da prostituição e das doenças venéreas permanecerem altas nos campos militares - compostos por homens.

O que Margaret Atwood disse sobre seu livro e adaptação para a série?

Em 2018, Atwood admitiu que não tinha muito controle sobre a adaptação de seu livro para a televisão. Ela disse: "Acho que teria que ser terrivelmente estúpida para me ressentir porque as coisas poderiam ter sido muito piores. Eles fizeram um trabalho excelente... a atuação é ótima, eles se prenderam ao conjunto central de premissas."

Sobre June sempre escapar quase que ilesa, a autora comentou: "É uma série de televisão. Se você vai ter uma série, não pode matar o personagem central e também não pode fazer o personagem central escapar em segurança no primeiro episódio da segunda temporada. Não vai acontecer."

Apesar de The Handmaid's Tale, pensando em Gilead, não ser uma história real, Margaret Atwood já deixou claro que tudo que escreveu em seu livro foi baseado em acontecimentos do mundo real, como os já descritos anteriormente: "Quando eu escrevi O Conto da Aia, nada entrou no livro que não estivesse na vida real em algum lugar e algum momento."

A série é frequentemente citada quando movimentos sociais estão acontecendo, tendo voltado às discussões nos Estados Unidos agora em maio com o projeto de lei que permitiria o direito ao aborto tendo sido derrotado no Senado americano. Várias pessoas foram vistas usando as roupas de aia e com cartazes estampados de frases do livro.