A fronteira entre Canadá e Gilead é muito mais flexível do que parecia. Nessa mesma temporada, uma identidade foi forjada para June para que conseguisse atravessar o Lago Michigan. No episódio da semana, penúltimo da quarta temporada, intitulado por "Progress", novas linhas de comunicação são abertas. June liga para Lawrence através de um telefone de mesa. Os Putnams - uma família de alto escalão e parte da cadeia de liderança de Gilead - não apenas viajam para o Canadá, mas também fazem uma pequena visita social a seus amigos na prisão internacional de crimes de guerra, usando suas roupas tradicionais e trazendo presentes aos presos. Nick também ultrapassa limites pela amada, fazendo uma longa viagem para encontrar June. Me pergunto a motivação dele não ter feito isso antes.

Com June no Canadá, os limites foram pro espaço, "virou festa". Mark Tuello pode providenciar qualquer ligação, qualquer visita. Obviamente, ele e outros agentes do governo dos Estados Unidos no exílio ainda detém certo poder e têm contatos do lado de Gilead, além de métodos especiais para organizar tais encontros. O problema aqui é que o episódio faz tudo parecer muito simples de se fazer, em uma primeira análise. Não temos mais tanta violência a partir da segunda metade de temporada, o que é bom.

O episódio foi guiado por personagens. Dois com sua comum ambiguidade, Lawrence e Lydia particularmente. Desde que Lawrence apareceu na segunda temporada, tento decifrá-lo. Lydia caminha a passos vagarosos para seu destino traçado de Os Testamentos (sequência do primeiro livro). Ambos se encontram na mesma encruzilhada e precisam decidir entre o caminho da verdadeira resistência ou se deixar levar totalmente pelo sistema. Os dois se encaixam nas mudanças de humor da vida real.

Quando June liga e implora pela ajuda de Lawrence para encontrar Hannah, é impossível saber como Lawrence reagirá. Sua crueldade exagerada, no entanto - insistir que devolverá Hannah se June dar a Gilead dez crianças de Voo dos Anjos - deve ser o resultado da pressão dos outros Comandantes, ele não está na melhor forma para pedir favores. June recusa a oferta de Lawrence sem pensar duas vezes e isso é o mínimo que esperamos da personagem. Lawrence até brinca que June barganharia em outros tempos pela filha. Bem, as coisas mudaram, Gilead não tirou toda a humanidade da ex-aia.

Luke tem uma ótima ideia, usar Nick para reaver Hannah. Me admira que a apaixonada June não tenha sido a pessoa a lembrar do Comandante. Luke se lança entre a fúria, o desespero e o desânimo quando pressiona June para visitar Nick junto com Nichole, tentando melhor convencê-lo a ajudar. O relacionamento de Luke e June teve altos e baixos desde que ela entrou no Canadá. Romance e rejeição, culpa e alívio. Tentar encontrar Hannah os une em seu propósito, mas usar Nick acende uma fagulha nessa bagunça.

A vez mais recente que June viu Nick foi o beijo de despedida em lágrimas na ponte - aliás, a música instrumental que toca é Last Kiss, do brilhante Adam Taylor, fomos enganados. Em um primeiro olhar, achei fofo os ver juntos, até lembrar da problemática da relação. June veste um casaco vermelho-aia, será uma alusão a Nick? Eles se encontram em uma escola católica abandonada, a luz flui atrás deles, a família de três parece confortável e contente. A viagem, é claro, era para reunir qualquer informação sobre Hannah, que Nick como Comandante tem em fácil acesso. Novas fotos de "amigos" perto da casa em Colorado Springs, na escola, até mesmo relatórios sobre seu comportamento. "Tirá-la é impossível", afirma Nick, em justificativa ao número de Guardiões trabalhando na segurança da jovem.

Falando sobre Os Testamentos, tivemos mais um aceno ao livro. Tia Lydia e suas companheiras estão sentadas à mesa como em "A Última Ceia", de Leonardo da Vinci. Faz sentido que todas essas mulheres jantem no mesmo lado da mesma mesa? Claro que não, mas o visual da cena supera e justifica qualquer questionamento sobre. Lá está Lydia, o próprio Senhor, implorando paciência e amor de suas acólitas relutantes. Quais são seus planos para Janine e para Esther, duas mulheres que se encontram várias vezes por causa da recusa em comer? Lydia tem um carinho estranho particular por Janine e parece ter algo em mente para ela.

Após o vaivém da prisão (Serena odeia Fred, Fred odeia Serena, Serena precisa de Fred, Fred precisa de Serena), a estagnação emocional dos Waterfords finalmente foi quebrada. A visita dos Putnams plantou de forma gostosa de ver a semente de preocupação nas mentes de Serena e Fred. O Estado - leia-se Gilead - , eles perceberam, poderia tirar seu filho e dá-lo a outra pessoa. Serena fértil e voltando para Gilead sem Fred, sem um homem, poderia se tornar uma aia.

O casal Waterford possui a única coisa que faltou a June em seus anos presa sob seu teto: informação como moeda de troca motivada. Gilead não os aceitará de braços abertos - os outros Comandantes perderam o interesse em Fred, nem mesmo se preocupando em negociar com os canadenses por seu retorno. A pequena visita social dos Putnams é um aviso velado. E então Fred troca o que tem - informações sobre os planos, hierarquias e capacidades de Gilead - por sua liberdade e para que Serena e seu filho fiquem seguros.

Tuello conta isso a June e Luke como algo bom para os dois, como se Fred fosse devolver Hannah a eles. June corre atrás de Tuello. "Aquele homem é um estuprador de merda e você sabe o que ele fez comigo", ela berra, pouco antes de fazer uma promessa que sabemos que ela é capaz de cumprir: "Eu vou te matar!" Falta apenas um episódio, estou animado para vê-lo.

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