Uma calma depois do turbilhão de coisas que foi o trio de episódios anterior. "Milk" é sobre mover peças no tabuleiro, tanto literalmente (June e Janine indo para Chicago) e figurativamente (Rita contando o segredo da gravidez de Serena para Fred). Estamos lidando com o trauma de "The Crossing" e Janine e June também. Se não houve tanta ação neste episódio, precisamos lembrar que estamos assistindo a uma série de drama e esse episódio serve de escada para a reviravolta do meio de temporada.

Rita nunca foi considerada das mais complexas em The Handmaid's Tale. Na primeira temporada, há uma cena em que Serena entra na cozinha tarde da noite, alegando que está procurando chá de camomila. Rita oferece a ela algo mais forte e, enquanto as duas se sentam juntas, ela revela que uma vez teve um filho, Matthew, que foi morto na guerra depois que os Comandantes lançaram seu golpe contra os Estados Unidos. Serena presume que ele lutou por Gilead, mas Rita nunca confirma isso. Que tipo de "patriota" ele era?

Rita é decente, honesta, reservada. Amanda Brugel a interpreta sem causar perguntas sobre sua devoção, mas certamente com vida abundante lutando e coexistindo. É fato que ela sempre demorou a assumir grandes riscos e agiu como um sistema de apoio tanto para June quanto para Serena, uma posição difícil de se manter. Agora ela está longe de Gilead e encontra os Waterfords na cadeia.

Serena e Fred cumprimentam Rita da mesma forma: é bom "ver um rosto amigo", ambos matando cachorro a grito por atenção. Apesar da conversa estimulante de Moira e do fato de sabermos que Rita já contou tudo sobre os Waterfords para o governo, ela se aproxima de Serena com uma ansiedade silenciosa, chamando-a de "senhora". É um sentimento de medo, o medo de uma falta de deferência a Serena. As notícias do bebê (e é menino, Fred vai ficar todo orgulhoso) de Serena alegram Rita, a lembram de seu vínculo por causa da bebê Nichole.

A tentativa descarada de Serena de usar Rita para sua própria autodefesa acaba por afastar Rita. Ela ainda chama Fred de "senhor", mas então joga uma pequena bomba de informação: a ultrassonografia. Lá se vai o plano de Serena para manter a gravidez em segredo. Aliás, essa é uma das reviravoltas que pode acontecer em breve, um bebê pode mudar tudo e até colocar Serena e Fred de volta ao jogo. No final do episódio, Rita está feliz comendo sushi banhada por aquela luz artificial que só The Handmaid's Tale tem, mas é linda!

Sobre a viagem de June e Janine, elas tem sorte, e como! June quer ir para Chicago e me parece que elas estão bem próximas. Nos dois primeiros episódios elas estavam na Pennsylvania. A primeira pitada de sorte é na estação de trem, June e Janine chegam exatamente quando um trabalhador grita: "Precisamos dessas coisas em Chicago!"

Então, June escolhe um vagão-tanque com o tampão aberto. Por que estaria aberto mesmo? June cai dentro sem titubear. O que tem dentro? Leite! Daí o título literal do episódio. Janine também entra. Confesso que eu não teria coragem. Morte fácil. Para minha surpresa, a sorte delas continua. June tateia a lateral do vagão por sete segundos e então puxa um tampão do fundo para o leite sair, como se o tampão fosse dentro. Quem sabe no modo de vida de Gilead seja assim... Aliás, a cor do leite não lembrava leite.

No caminho, elas tem mais sorte de novo. Um grupo de rebeldes ataca o trem. Eu já estava me perguntando como elas fariam para sair dali se chagassem a uma estação de Gilead. June sai e puxa Janine. O grupo decide recebê-las. Na Chicago bombardeada e em chamas, as coisas não são tão promissoras como se poderia imaginar. É interessante ver esse ponto do livro, que é mencionado várias vezes mas não é trabalhado. Mais uma vez, ao fundo, a equipe de efeitos visuais vacila. Já tinha visto essa cena no trailer, pensei que seria melhor trabalhada até sair o episódio. Ainda assim, gostei de ver a parte pós-apocalíptica de Gilead, ou do que Gilead quer para si. 

Steven, líder do grupo, vê uma oportunidade para si mesmo - essas "escravas sexuais" devem estar acostumadas a se relacionar com homens em troca de favores, certo? Então, por que não pegar uma para si mesmo? A outra membra Theresa, fica parada e observa enquanto ele diz a June e Janine que uma deles vai ficar com ele - qualquer uma, ele realmente não se importa.

Janine tornou-se uma contrapartida adequada para June, ela é desconsiderada porque exibe suas esperanças tão abertamente. June aplica força bruta, sempre se oferecendo como voluntária para a liderança, supondo que ela possa lidar com mais do que a maluca Janine. Mas, neste episódio, seus papéis se inverteram.

Vemos Janine em um flashback, não o flashback terrível que eu imaginava que veríamos, mas trabalhando em uma gravidez indesejada (que, surpreendentemente, não é do seu filho Caleb, mas de outro bebê depois dele) e escolhendo por um aborto, embora ela tenha caído em um lugar que apela para ela não abortar. Parte do que a mulher diz é certo: Janine seria uma mãe maravilhosa; ela é uma mãe maravilhosa.

Tenho que elogiar a escolha de quais cenas mostrar e quais não. Muitos não têm gostado da constante tortura que The Handmaid's Tale exibe, eu vejo que eles acertam no que mostrar. Há muito mais do que vemos. Janine sofreu vários estupros, a parte mais soft foi escolhida para ficar nesse primeiro, e talvez único, episódio de flashback da personagem.

Também, é difícil descrever Janine dando um boquete em Steven como corajosa, mas é o tipo de liderança de que ela é capaz de fazer. Janine tem um grande estoque de resiliência, uma capacidade de encontrar pedaços escassos de felicidade nos piores momentos. "Não foi tão ruim", ela diz a June. "Ele acha meu tapa-olho legal." A ideia aqui é que ela pode ajudar, que June não deveria tê-la deixado para trás, que ela pode lidar com o que June não pode.

Este é um episódio, que apesar de avançar na história, bem mais calmo do que o anterior. A gente precisava disso, um respiro, até mesmo porque, o próximo promete ser explosivo.

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