Lydia tem sido frequentemente vista como vilã

Uma formidável atriz, Ann Dowd construiu uma carreira em tirar o máximo proveito em pouco tempo de tela, como fez na aclamada série da HBO, The Leftovers. Esta lhe rendeu uma das duas indicações ao Emmy 2017, a primeira vez que foi indicada - na categoria Melhor Atriz Convidada em Série Dramática - representando a única indicação da série durante suas três temporadas. "Terei prazer em segurar a tocha para essa série porque merece", disse ela em entrevista na época. Sua segunda indicação ao Emmy no mesmo ano - e subsequente vitória - veio por interpretar tia Lydia em The Handmaid's Tale.

Durante o curso da série, Lydia tem sido frequentemente vista como um dos principais vilões da série. Ela é a cuidadora brutal das aias, responsável pelo treinamento e "bem-estar", mas também pela disciplina. É ela a responsável por impedir um encontro de June com sua filha, ela puniu Emily por transgressões sexuais e usou mais de uma vez sua arma de choque em Janine e June. 

Na segunda temporada, a série chegou a um final chocante quando Emily inesperadamente esfaqueou Lydia nas costas antes de empurrá-la escada abaixo da casa do comandante Lawrence. Parecia que ela havia sido morta, para alegria de uns e tristeza de outros. É inegável que bastaram duas temporadas, Lydia rapidamente se tornou uma favorita dos fãs graças à performance de Dowd, mostrando o tormento de sua personagem por querer apenas o melhor para suas aias, no seu ponto de vista, mantendo uma dedicação inabalável às regras "Sob os olhos d'Ele". 

Felizmente para os fãs e para Dowd, os produtores logo deixaram claro que Lydia não iria a lugar nenhum. "Eu não sou um manequim. Eu sei o que acontece quando alguém abre um roteiro e lê que será esfaqueado pelas costas por Rory Gilmore", brincou o produtor Bruce Miller em entrevista ao ET Online, ele conta que escreveu para Dowd um email antes dela ler o roteiro para que ela soubesse que sua personagem não morreria, retornando para a terceira temporada. "O que foi muito gentil", diz Dowd. 

Quando Lydia não morre, se distancia do que ela já foi. "Nós a encontramos em um estado muito mais vulnerável do que jamais a vimos antes", diz Dowd sobre a jornada de sua personagem na terceira temporada. "Fisicamente, ela saiu da cama cedo demais." E mentalmente, ela ainda está se recuperando do fato de que não antecipou o ataque de Emily. Aquele momento não só trouxe dano físico, mas também abalou sua confiança para com suas "garotas". 

Lydia está envergonhada e tem algo a provar. "Ela está muito preocupada com a maneira como os comandantes a veem", diz Dowd. Isso acaba levando a uma tia que está atacando - dando uma surra particularmente brutal em Janine - enquanto tenta restabelecer sua autoridade. "Ela está furiosa e com medo de suas próprias garotas e não quer ficar furiosa e assustada", diz Miller, enquanto a atriz acrescenta que "Ela carrega esse medo, que nunca teve antes. As coisas estão fora de seu controle e é muito desconfortável." 

Agora, passada a metade da terceira temporada, vimos Lydia se tornando mais resoluta, mais severa e implacável. Essa vulnerabilidade ainda está lá, mas a casca externa endureceu quando ela recuperou seu lugar entre aias, comandantes e esposas. "As mudanças continuam acontecendo", diz Dowd, "mas ela não se desvia de seu caminho."

No episódio oito, muito esperado pelo público, que se desenrola com flashbacks paralelos à ação atual, temos uma visão mais profunda de sua abordagem e atitude à medida que a série mergulha mais fundo em seu passado. "É bastante substancial", diz o produtor executivo Warren Littlefield. "É o começo de uma compreensão de quem ela era antes de Gilead."

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No passado, Lydia era uma professora de escola religiosa, divorciada, estendendo seus cuidados para um jovem estudante e sua mãe, Noelle, que Lydia acha que faz uma má escolha atrás da outra nos homens que escolheu para ficar. "Ela pensa: 'Eu posso ajudar essa mãe. Eu realmente posso. Acho que ela vai me ouvir e eu posso fazer a diferença'", diz Dowd. E por um tempo, parece que ela faz - pelo menos até que Noelle encoraja Lydia a se abrir novamente para o romance.

Em uma tentativa de se colocar de volta no jogo, Lydia sai para um encontro com o diretor da escola, com quem ela claramente compartilha um sentimento. No entanto, as coisas azedam quando ele impede que as coisas fiquem muito físicas, o que acaba envergonhando Lydia.

Em um momento que apenas uma atriz como Dowd consegue fazer, Lydia entra no banheiro e começa a quebrar o espelho com suas próprias mãos. Embora seja algo que ela e o diretor discutiram antes de filmar, Dowd não tinha certeza de qual seria a cena. "Mas, isso parecia absolutamente certo para o momento", ela diz, acrescentando: "Em muitos níveis, ela tem vergonha, raiva, perda e tremenda decepção consigo mesma. E acho que quebrar essa imagem de si mesma é tão bom." 

Essa raiva acaba sendo transferida para Noelle, a quem Lydia subconscientemente culpa por seu embaraço. "Se ela não tivesse escutado Noelle, isso nunca teria acontecido", diz Dowd sobre o pensamento de Lydia, o que a leva a denunciar a jovem mãe aos serviços sociais por não ser uma boa mãe para seu filho. "Há tantas pessoas com tanto amor para dar", diz Lydia, que está visivelmente devastada. Para Dowd, dizer essas palavras quase partiu seu coração. "Porque esse é o fim. É quando a porta finalmente se fecha", diz ela.

Mesmo assim, Lydia foi consumida pela vergonha, e é uma vergonha que finalmente a levou a um caminho em direção a Gilead, onde ela agora está lidando com uma multidão de mulheres que precisa restaurar para uma vida significativa - particularmente Janine, que talvez seja a comparação mais marcante com Noelle. 

Uma aia jovem e ingênua, Janine desenvolveu uma relação inesperadamente próxima com Lydia ao longo da série, especialmente no início da terceira temporada. Quando as outras aias se distanciaram da tia, Janine veio em seu auxílio, como um adolescente apaixonado. Enquanto ela é o seu opressor, Janine olha para Lydia como uma mãe. "O relacionamento de Janine com tia Lydia é complexo, tão cheio de camadas, tão nuançado", diz Brewer. Tia Lydia representa as mulheres na vida de Janine antes de Gilead, que não deram a ela aquele carinho e respeito que tia Lydia pode dar. 

Em última análise, Lydia se sente responsável pela sustentação psicológica de Janine, mesmo que isso signifique cumprir uma punição tão severa quanto remover seu olho, ou usar a arma de choque. "Eu amo esse relacionamento", diz Dowd, que admite que Lydia se orgulha de estar no controle de suas emoções e não reativa. "Em outras palavras, pensando antes que ela decida sobre essa punição, se Lydia tivesse que fazer isso de novo, provavelmente não teria tirado esse olho."

"Lydia a adora e tem que ficar muito atenta... Lydia se sente responsável", continua Dowd. "Adoro a sutileza disso e a consistência." Sua dinâmica é um dos poucos casos em que a vulnerabilidade e a autoridade de Lydia se chocam - e, de certa forma, podem levar ao ponto de ruptura de Lydia no futuro.

Então, algo como Janine morrer, igual o colapso mental que fez Ofmatthew atacar as outras aias, inclusive Janine (Ofmatthew não morreu, quase), poderia abrir a fenda da insegurança em Lydia? Dowd não tem tanta certeza. Evidentemente, ela não pensou sobre isso, mas diz que "seria muito, muito, muito doloroso". 

O que se desdobra nos próximos episódios continua a ser visto. Não importa o que aconteça, Lydia se tornou a personagem mais atraente desta temporada, revelando novas e inesperadas camadas à medida que sua história se desenrola. "Tentando entender uma mulher que é complicada e sei que tem um coração, ao contrário da evidência apresentada; para entrar em alguém de uma forma que lhes dê meia chance de ser entendido, esse é um tremendo desafio", completa Dowd.