Chegamos a mais um episódio escuro de The Handmaid's Tale, mas escuro na medida certa. A cena do jantar e a primeira sessão de terapia em grupo foram bem escuras. A última cena da biblioteca - quando June traz a ex-Tia Irene de volta para se juntar a elas e a coloca no centro do círculo como uma aia prestes a ser apedrejada - porém, era bem iluminada. A única outra cena que iluminou-se gloriosamente neste episódio foi o testemunho de June na Corte Internacional de Crimes.

É o segundo dos três episódios dirigidos por Elisabeth Moss na temporada, depois do emocionante "The Crossing". Esse segundo episódio pode ter sido menos difícil de se dirigir do que o primeiro e de fato Moss se deu mais bem em "Testimony". Há uma menor brecha para especulação. Falando na patroa, é difícil imaginar que a iluminação resplandecente em June tenha sido acidental. June agora é a figura de uma santa, que se incumbiu de travar uma guerra contra seus opressores e libertar os oprimidos.

O testemunho de June nos conta muito do que já sabemos, o que o Canadá não sabe. Foi uma recapitulação da série até agora, o que não tornou a cena menos emocionante. Ela conta sobre os estupros sistêmicos na mansão Waterford, do seu relacionamento forçado com Nick, suas tentativas de fuga. Ela conta na corte sobre Serena ter lido a Bíblia em voz alta e ter recebido a punição do dedo cortado, sobre não escapar com Nichole e sobre os Waterfords forçando ela e Lawrence a fazer sexo. June nos fornece uma data rara quando diz que foi enviada para os Waterfords em 2017, essencialmente explicando que o série está acontecendo em "tempo real", como já escrevi em matéria aqui no site. Essa recapitulação deve ser suficiente, já que por enquanto, é apenas um pedido de julgamento do casal Waterford, não o julgamento em si.

O depoimento é uma cena única, são aproximadamente oito minutos sem tempo para reações de Fred, Serena ou Luke. A advogada dos Waterfords usa a velha tática de culpar a vítima, ela lembra que June se relacionou com Luke, que era casado com Annie no começo e cometeu pecado de traição, assim June teria escolhido ser aia pelo pecado de adultério. A advogada ainda argumenta como se June tivesse tido opção, a morte certa por radiação nas Colônias ou ser estuprada regularmente como aia. E então Fred levanta rapidamente para falar sobre o "caminho de Deus", suas recompensas e a maneira como os fins justificam os meios, porque a taxa de natalidade está aumentando em Gilead. Isso seria suficiente para justificar todo o horror que tem sido feito em Gilead? Serena permanece firme ao lado de Fred. "Deus acima de todos", diriam aqui no Brasil. Os manifestantes apoiadores do casal me soam familiares.

June tem raiva do sistema de Gilead, te entendo. Na primeira reunião do grupo de terapia, ela não consegue encontrar alguém com a fúria que ela tem. As ex-aias são mansas e estão focadas na cura, elas aplaudem June por simplesmente ir ao tribunal. "Por que elas não estão mais bravas?" ela pergunta.

Desde a segunda temporada, com Moira no Canadá, um tema tem sido debatido com frequência. Qual é a resposta "apropriada" ao trauma? Por que presumimos que há apenas uma resposta certa? June não consegue aceitar que Emily não quer confrontar sua agressora - a fúria é o único caminho a seguir. Então, ela empurra Emily para um confronto cruel e doloroso com a Tia que a delatou, enviou sua amada Martha para a morte e fez com que o clitóris fosse removido. Emily admite depois que Tia Irene/Iris se enforca: "Eu me sinto incrível. Estou feliz que ela esteja morta. E espero ter algo a ver com isso". Pensei que a reação de Emily seria diferente, menos mal.

O episódio anterior nos deu uma cena chocante entre June e Luke, June estupra Luke depois de uma conversa aflorada entre ela e Serena. Ele resiste, ela avança e tapa a boca do marido enquanto faz sexo. O motivador dela era recuperar a sensação de poder sobre o seu próprio corpo, retomar a sexualidade que estava reprimida por uma capa vermelha e pela touca branca. Esta semana ela tenta de novo, tentando beijar Luke em vez de falar com ele, deixando o casal ainda mais desencaixado. Depois de ouvir o testemunho de June, Luke presumiu que sabia "tudo", que agora eles poderiam deixar isso para trás e "viver felizes para sempre". Mas ele não só não sabe de tudo como suas tentativas apenas afastam ainda mais June. Ela lutou muito para chegar ao Canadá. As feridas ainda sangram.

Em Gilead, Tia Lydia está com mais raiva do que o normal. Ela precisa da ajuda de Lawrence de novo depois de dar choque na aia Kylie e na Tia Ruth. Janine está de volta sob custódia na cadeia de Gilead, esperando Lawrence presenteá-la para Tia Lydia a fim de endireitá-la. As duas sempre formaram um par tentador - Lydia é a figura materna que Janine sempre desejou, e mesmo o mais sangrento dos castigos não impediu a aia de se deleitar com a aprovação de Lydia.

Lydia puxa a linha com mais probabilidade de ser trabalhada com sucesso em Janine - aquela em que June abandonou sua bunda irritante em Chicago quando teve a chance. Ela acaba nos braços de Lydia, ainda desconfiada, mas disposta a ouvir. A resposta de Tia Lydia que é mais intrigante. O rosto lacrimejante de Tia Lydia e o afeto especial por Janine sinalizam mais uma vez a mudança com grandes implicações que vemos em Os Testamentos. Faltam dois episódios para o final da temporada!

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