Bem, finalmente tivemos contato com a estreia de Elisabeth Moss na direção de The Handmaid's Tale, além de atuar e produzir. E ela está de parabéns, o episódio é o meu favorito da tríade que estreou na quarta (28) no Hulu. É também, talvez o mais pesado dramaticamente de todos os episódios da série. Teve tortura e tiveram (várias) mortes acompanhadas de uma trilha sonora de arrepiar e acelerar os batimentos cardíacos, parabéns Adam Taylor, funcionou!

Se o público reclamou da tortura, eu nem acho que isso foi tão pesado. June sofreu mais nas mãos de Tia Lydia do que nas mãos do sádico Tenente Stans, brilhamente interpretado por Reed Birney. Aliás, parabéns pela caracterização do Tenente, estereótipo a la óculos e roupas antigas de psicopata feito!

Sobre a violência, Margaret Atwood já deixou claro que o que escreveu no livro The Handmaid's Tale foi baseado no mundo real ou veio direto da Bíblia. Ela simplesmente combinou os estupros testemunhados pela esposa, apedrejamentos coletivos e remoções de partes do corpo em sua própria sopa. Desde que a série ultrapassou a criação de Atwood após a primeira temporada, a tortura tem sido uma reclamação frequente por parte da crítica. Eu continuo achando válido, só escancara o que Gilead tem de pior. O que é um prédio inteiro de tortura contra as frequentes retiradas de membros do corpo de infiéis como Janine e Comandante Warren Putnam, ou retirada do clitóris de Emily?

Parte do episódio se passa em uma bruta prisão, agora com June capturada. A cena de entrada da prisão foi muito bem feita, com um belo movimento de câmera. June é amordaçada e amarrada, no estilo Hannibal Lecter. O que a espera lá dentro é uma combinação de vários pesadelos. As luzes piscam para causar desorientação, gritos e gemidos são ouvidos pelos corredores, vemos inclusive homens sendo torturados em uma das salas. Os métodos de tortura específicos de June são testados e comprovados, embora tenham um toque Gileadeano. Quando eles colocam um pano com uma cruz desenhada sobre o rosto da June para começar a afogamento, parece que o batizado católico vai acontecer, bizarro! E o sádico Tenente - com sua aparência de professor animado - emite vibrações de crente no sistema. A tortura de June é voltada para um objetivo: encontrar as aias desaparecidas, seus úteros são uma mercadoria extremamente necessária, especialmente considerando a recente perda das 86 crianças enviadas para o Canadá através do "Voo dos Anjos".

Reforço que o Tenente é uma criação inteligente e uma ótima escolha de ator. Mas também tivemos o reencontro de June com a Tia Lydia e o desempenho de Elisabeth Moss costuma ser o melhor nesses momentos mano-a-mano, especialmente com uma atriz de peso como Ann Dowd. Nick cumprimenta June na parte de trás da van e dá a má notícia: "Sra. Keyes está segura em custódia" e que agora está em busca das outras aias.

Lydia está em saia justa, devendo para Gilead depois da fuga das crianças a que foi responsabilizada. Ela acredita em seu destino como pastora das aias rebeldes. June é a ovelha mais desesperadamente perdida, e uma pequena parte de Lydia parece acreditar que pode transformar June em uma "garota obediente". Funcionou com Janine - Lydia a botou para baixo tantas vezes que Janine acabou caindo em seus braços, encantada até com o menor sinal de afeto, inclusive com aquele tapa-olho vermelho para cobrir o buraco vazio que Lydia deu a ela. Lydia e June sabem bem como se alfinetar. "Lydia: é tudo culpa sua!"

Se o alicate puxando suas unhas e a jaula de aço na qual June está presa são incentivos físicos para contar a verdade sobre a localização das aias, a cena no telhado não é nada além de tortura psicológica. Beth e Sienna, as Marthas da casa do Comandante Lawrence, não tiveram as mesma sorte das aias e voltaram para serem mortas. Esta cena é perturbadora. No início, dá a entender que June teria que escolher uma para matar a fim de salvar a si mesma ou às outras aias. Mas é pior, porque o Tenente empurra as duas soluçando e indefesas para fora do telhado e nem mesmo consegue nenhuma boa informação de June por isso. Gilead não precisa de mulheres inférteis, não é mesmo?

Nick e Lawrence catam migalhas para contornar os efeitos da fugas das crianças. Lawrence foi poupado da morte com ajuda de Nick e agora Blaine quer a moeda de troca. Que Lawrence o ajude a convencer June a contar sobre o paradeiro das aias. Obrigado por nada, Nick. Lawrence concorda e um banquete é oferecido para June, que não recua. A única coisa que faz June mudar de ideia é Hannah, que aparece em uma jaula de vidro no estilo Hannibal (de novo!). Hannah não reconhece June e mostra medo. O que foi dito para a jovem chegar a esse nível de trauma? Gilead precisa acabar.

Depois de entregar as amigas, June é enviada para a Colônia Madalena, um novo método de disciplina, onde a aia trabalha e no momento que está fértil, Comandante e esposa vem para realizar a Cerimônia. "Posso ver o valor para certos temperamentos", diz Lydia diretamente para June.

No caminho, June e Nick participam de um beijo temperado de vergonha alheia digno de Sessão da Tarde. Cena cafona e desnecessária para uma série de drama como The Handmaid's Tale, ainda mais nessa altura. Estou pronto para passar pano para a série, mas a câmera em 360º não foi boa ideia, Elisabeth Moss.

A maior destruição emocional do episódio vem no final, depois dessa montanha se sentimentos que foi a tríade de episódios de estreia da temporada. Certamente uma vantagem que a série The Handmaid's Tale tem em comparação com o livro é a união das aias. Ver aquele grupo de mulheres de volta junto é poderoso e a cena foi muito bem dirigida por Moss, parabéns! A atuação silenciosa entre o grupo - a fúria de June, seguida pelo reconhecimento de que poderiam dominar Tia Lydia, e então o uníssono com que elas saltam e saem da traseira da van - remonta à promessa original da série. June não é a única sofredora, sua história não é única, embora a série seja sim sob o olhar de June. Todas essas mulheres foram convocadas para um pesadelo e elas têm apenas uma a outra.

Não é surpreendente que o Guardião mate duas aias com seu revólver. Mas o trem de carga e o tempo (im) perfeito que esmagam Alma e Brianna são chocantes e uma das melhores decisões dos roteiristas. Ficamos tristes? Sim, óbvio! Narrativamente é válido e positivo. A confiabilidade do mundo fictício depende dele manter e seguir sua própria lógica. Isso significa que se você construir um mundo cruel e punitivo, as pessoas terão que continuar morrendo e isso é Gilead.

Se você não se conformou com June não ter dado um fim em Tia Lydia, você não está sós. Mas, pondero aqui, que June vê Tia Lydia como outra vítima do sistema patriarcal de Gilead, embora Lydia não costume mostrar piedade quando está com sua arma de choque nas mãos. Outro ponto questionado é como as June ficou mais a frente das outras aias, sendo que estava atrasada segurando Tia Lydia. Esse ponto é facilmente explicado: o esquadrão estava em uníssono e o restante do grupo esperou por June. É algo bobo, que só estando na situação para saber.

Além do beijo cafona de Nick e June, outro ponto que me incomodou no episódio foram os efeitos especiais, o que foi a cena do trem? Nem parece que é a mesma equipe que foi indicada ao Emmy 2019 pelo episódio de Washington. Poderiam ter caprichado beeem mais! Mesmo considerando esses pontos negativos, o episódio de Elisabeth Moss tem balanço positivo em termos narrativos. A nova temporada não se estagna em um único lugar e está em constante movimento, gosto disso.

E você, gostou do episódio? Concorda com a review? Deixe sua opinião nos comentários!