Faltando ainda apenas quatro episódios para o final da segunda temporada de The Handmaid's Tale, o nono episódio, intitulado por "Smart Power" finalmente leva a série para além de Gilead e nos apresenta o olhar que as pessoas do resto do mundo tem de Gilead, enquanto June busca proteção para seu bebê prestes a nascer.

Jeremy Podeswa, diretor de vários episódios marcantes de Game of Thrones só veio a acrescentar no nono episódio, apresentando um dos melhores da temporada. Começa com uma cena de June em seu quarto, com sua narração em um primeiro momento, imaginando a crítica que deixaria para o lugar se fosse um Airbnb “Os donos são super educados, mas esquisitos pra caralho". Ela é chamada imediatamente para baixo, no entanto, por uma razão desconhecida. O silêncio dos primeiros minutos do episódio é uma continuação punitivamente apropriada de onde paramos na semana passada, com Fred batendo em Serena brutalmente enquanto June assistia. June ser chamada sem saber o motivo, então, não devem significar exatamente coisas boas.

A notícia é bastante neutra: Fred está indo para o Canadá para tentar consertar seu relacionamento danificado com Gilead e arrasta Serena, como a mulher perfeita de Gilead junto com ele. Nick acompanha a viagem. Serena ainda está abalada com os eventos do episódio anterior, se esquivando até mesmo com o menor toque de Fred, e ela parece não estar nada feliz com a viagem. Mais ironia aqui, Serena - uma intelectual que defendia a opressão de seu próprio gênero - disposta a provar que ela não é sem voz.

Enquanto o casal Waterford viaja, June é deixada aos cuidados de Isaac, mas antes de partirem, Serena da a June um presente de despedida, crueldade. "Offred, eu andei pensando", diz ela. "Você vai sair dessa casa assim que o bebê nascer." Serena não parece sincera consigo mesmo, ela soa derrotada, até mesmo triste. June está com o coração partido, mas nessa altura apenas concorda balançando a cabeça.

Serena e Fred chegam ao Canadá - Luke e Moira veem tudo pela televisão, a melhor amiga de June imediatamente reconhece o Comandante. Luke é dominado pela raiva. Ele e Moira imploram a uma funcionária do centro de refugiados que prenda Fred, Moira aponta que ele é um criminoso de guerra e um estuprador em série, mas a resposta, é que nada pode ser feito. Fred veio ao Canadá como uma viagem diplomática e o governo canadense vai ouvi-lo.
A cena mais marcante do episódio vem em seguida e é praticamente, como muitas outras cenas de THT, sem palavras. Serena, Fred e Nick estão a caminho do hotel, dirigindo pelo Canadá pela primeira vez. A câmera fixa em Serena enquanto ela olha pela janela, observando a agitação da vida que segue no Canadá. É o oposto dramático de Gilead, a série já nos levou antes ao Canadá, mas vê-lo através dos olhos de Serena torna o contraste mais nítido e triste. Temos Serena tranquilamente enamorada pela visão de foodtrucks, o som de pessoas gritando por táxis, os casais se beijando nas ruas sem censura alguma. É uma sequência linda ao mesmo tempo que é estranhamente dolorosa - uma visualização da cumplicidade, da dor, da repressão e da sensação de perda de Serena, tudo em uma sequência. Em um momento, sem nenhuma razão específica, ela suspira audivelmente.

Serena e Fred são recebidos por um grupo de oficiais canadenses, um dos quais é um gay que torna essa cena amigável, o desconforto de Fred é uma alegria de ver. Serena recebe uma agenda das atividades culturais que devem cumprir no Canadá enquanto Fred desaparece com os homens, uma indicação sutil de que mesmo em uma sociedade livre, o sexismo e os papéis de gênero persistem. Serena é primeiro levada para um jardim onde se maravilha com as orquídeas; a mulher que a guia pergunta se a jardinagem é um passatempo comum das esposas, antes de perguntar se esse é o termo correto. Serena diz que todas têm suas paixões, mas percebe que não são nada em comparação com sua companheira, uma mulher viciada em trabalho que tem amor declarado pela literatura francesa. Ela conta mais tarde, que soube que Serena também gosta de fazer tricô, e depois confessa que ela mesma não é muito boa nisso. Serena tenta rir da situação, enquanto lá no fundo lembra que odeia tricotar. Mais ironia pro lado da esposa de Fred.

As ironias de Serena no episódio só vem para confirmar os passos que a segunda temporada de The Handmaid's Tale vem gradualmente dando para trabalhar a esposa de Fred, já que ela é uma das personagens mais complicadas e atraentes da série. Vê-la tentando estar em um lugar diferente de Gilead é excepcionalmente poderoso. De volta ao hotel, ela espera por um elevador ao lado de uma mãe e sua filha. Serena se destaca como uma estrangeira fantasiada em seu traje de esposa que é vista pela mãe com desdém. A filha pergunta se Serena é uma princesa; instantes depois, a mãe indica que não devem entrar no mesmo elevador. Serena oferece a elas o primeiro elevador e diz: “Bênçãos para você”. Para Serena, essa é a forma normal para se cumprimentarem, enquanto mãe e filha olham para ela como se fosse louca.

Ela vai até o bar, pedindo uma taça de Riesling, antes de um homem fumando cigarro se aproximar dela. Em um primeiro momento é fácil de confundir seu interesse com flerte, mas Serena está muito familiarizada com o pior. Ela supõe que ele é da imprensa, mas ele trabalha para o governo americano e rapidamente oferece seu porto seguro em Honolulu, onde ela poderia viver uma nova vida, se livraria disso. "Eu temo que não tenha feito malas para ir a praia", ela brinca. “Até agora, tudo o que você me ofereceu foi traição e cocos.” Ela ainda mantém a conversa por mais tempo do que deveria, a certa altura, confidenciando que tem uma criança a caminho. O que o homem responde não deve ajudar, mas a faz pensar: "Isso não é seu filho."

Quanto ao destino do bebê, June luta para chegar a um acordo com ela. Enquanto vão ao caminho das compras, June conta a Janine sobre o plano de Serena de mandá-la embora depois que o bebê nascer, Janine aponta que isso é anaceitável na frente de Isaac, ele prontamente a bate no rosto a arma, sem remorso. June pede a Rita, em um momento que elas ficam sozinhas, para que ela cuide da criança em sua ausência. E talvez na confissão mais pungente, ela pede o mesmo a Tia Lydia durante uma revisão na saúde da grávida - forçando Lydia a pesar sua dedicação às regras de Gilead contra sua dedicação ao bem-estar do bebê. Ela concorda em proteger a criança e até que finalmente tem um momento íntimo com June, revelando que já foi madrinha do bebê de sua irmã: “Ele morreu quando tinha quatro dias de idade. Não foi minha culpa.

De volta ao Canadá, Nick, Serena e Fred estão em movimento novamente e encontram um grande protesto - um no qual Luke participa ativamente. Ele está segurando uma placa com uma foto dele, June e Hannah, e a angústia em seu rosto é torturante. Luke finalmente olha nos olhos de Fred e vai atrás dele, gritando: "Você estuprou minha esposa." Fred mantém a compostura, seguindo seu roteiro, mas Serena atrás dele mal consegue encarar a cena, atormentada pela culpa. Todos, inclusive Nick, vêem a imagem que Luke está segurando e sabem exatamente quem está na foto.

Naquela noite, Nick vai para o bar onde Luke está bebendo para aliviar sua dor e se senta ao lado dele. Luke o reconhece e tenta fugir, mas Nick não se move. "Eu conheço June", ele confessa. "Ela é minha amiga." Luke vê em Nick uma certa humanidade, percebendo que ele está lá como um aliado, não como um inimigo. Nick diz a ele que June está bem, mas que ela também está grávida (não dizendo que o bebê é realmente dele). Nick está lá em uma missão, no entanto - para finalmente colocar as cartas de Jezebel em boas mãos. Ele as entrega a Luke e sai, prometendo cuidar de June.

Ele lê as cartas com Moira e a outra colega de apartamento, ficam quase decepcionados por elas - histórias de mulheres cujas vidas foram destruídas, dolorosas, mas nada que possa, como Moira diz, "explodir". Ou talvez elas possam. De fato, o grupo decide divulgar as cartas na internet para que todos vejam, e em sua crueza, sua inconfundível veracidade, elas acordam o governo canadense, tirando-os do compromisso diplomático com o regime totalitário. Pausa para os paralelos ridiculamente oportunos do mundo real desse episódio que são incrivelmente assustadores. Fred humilhado e uma Serena sem voz atrás de si enquanto milhares de cidadãos canadenses e refugiados fazem um protesto. Um momento se prolonga: a visão de Moira, outrora uma prostituta sob o nome Ruby a quem Fred conhecia bem.

Após seu retorno, Nick vai até o quarto de June para lhe contar sobre a viagem: que Luke está bem, que Moira escapou em segurança, que as cartas que eles mantiveram em segredo por tanto tempo finalmente foram divulgadas. June está impressionada com as notícias. Antes de ouvir qualquer coisa, ela tentou beijar Nick, mas ele resistiu. É o lembrete da existência de Luke, seu amor eterno por ela, que mais tarde a impede de abraçá-lo completamente. Sua realidade emocional é infinitamente complicada. E Nick faz a coisa certa. Ele diz a ela que Luke a ama e a deixa sozinha em seu quarto para pensar, onde a vemos quando o episódio iniciou. Agora não está mais considerando os comentários do Airbnb. Ela está repleta de otimismo e esperança, "mas foda-se isso". Créditos ao som de Consideration de Rihanna.

Texto escrito para The Handmaid's Tale Brasil, reviews sempre as quartas, mesmo dia da entrada do episódio no catálogo do Hulu. Então, você percebeu algo que não está esclarecido aqui nessa review? Tem algo a acrescentar? Comente abaixo sua opinião sobre o episódio.