O último episódio terminou nos deixando desolados pela captura de June e o quarto dá sequência a volta dela a vida de aia na casa dos Waterford. O episódio se inicia com June acorrentada no Centro Vermelho, enquanto Tia Lydia lhe dá as "boas-vindas".

Depois de passar três meses longe de casa, June, agora novamente Offred, é recebida na casa de Serena e Fred com um chá de bebê. O ritual é mais uma das demonstrações do planejamento que houve por parte das pessoas que contribuíram com Gilead: a medida em que as aias e esposas fazem um círculo segurando cordões verdes e vermelhos, uma oração é feita.

A relação de June e Serena nunca foi tão instável como agora, Serena, repleta de raiva e desconfiança, é recebida com uma June revolta. A situação fica ainda mais tensa quando June se refere ao chá de bebê como sendo dela. É o impulso para Serena querer June criando o bebê no Centro Vermelho, fora de sua casa, depois de descontar sua raiva na mais próxima, a Marta Rita. Para quem esperava uma Rita cúmplice do Mayday por ter recebido as cartas de June na primeira temporada, o tapa na cara e a devolução dessas cartas podem indicar que Rita não seja mais uma opção para June.

A imunidade de June do castigo físico é especialmente comovente em vista do sofrimento experimentado pelas outras aias que se rebelaram - como a segunda Ofglen, June descobre que sua língua foi cortada por defender Janine, ou Alma, cujas queimaduras são mostradas por inteiro. “Isso não foi culpa sua”, Alma diz a June em relação à mutilação de Ofglen, e então, depois de uma pausa esmagadora, “Não essa parte.” A dor delas visivelmente choca June, mas não tanto quanto saber que depois de ter sido capturada, o Mayday parou de ajudar as aias, ao menos por enquanto.

A desumanidade de Serena é ainda mais grande na noite depois do conturbado chá de bebê, quando ela vai ao escuro quarto-cativeiro de June e conversa com o bebê na barriga da aia como se fosse seu. É um jogo tão desumano e horripilante quanto o ritual de estupro que fazem ela e o Comandante todo mês com June.

Inegavelmente Tia Lydia é responsável por grande parte da dor que sofremos juntos nesse episódio. Mas quando Tia Lydia diz a June: "Estou tentando dar a você a melhor chance que pode ter", ela não está errada. Depois de June ver que seu socorrista econopeople do episódio anterior foi enforcado no muro, Lydia oferece a mais sedutora barganha que June já tenha recebido: Desaparecer em Offred absolveria June de sua culpa e responsabilidade pelas pessoas que sofreram em seu nome. Tudo o que ela tem a fazer é se voltar ao sistema que a oprime e ser uma boa menina. 

É um poderoso incentivo para ceder e, fatalmente, June cede, ao menos é o que parece. Na primeira temporada, o quarto episódio foi o ponto baixo de June. O quarto episódio da segunda temporada parece um eco disso, até o momento em que entra no seu armário em busca de conforto das Offred anteriores a ela. (Na ausência de June, a mensagem esculpida pela primeira Offred no armário era - “Nolite te bastardes carborundorum”, em latim “Não deixe que os bastardos te oprimam” - foi removida, então não há mais o conforto sentimental deixado pela Offred anterior). Justo ou injusto, June está carregando fardos pesados: sua fuga fracassada colocou em risco o Mayday; as outras aias se ressentem dela; perdeu a confiança de Rita; Serena e Tia Lydia estão mais invasivas do que nunca, e os econopeople que sofreram as consequências. Em meio a esse mar de culpa, os primeiros dias de June com Luke também ressurgem - desta vez, como uma série de flashbacks da época em que a esposa de Luke confrontou June sobre o caso e pediu a ela que interrompesse.

Dado tudo o que June tem enfrentado, no entanto, os flashbacks parecem um pouco mais difíceis de serem limpados da memória. Não há tentativa de mostrar como os problemas em se relacionar com Luke, um homem casado, impactaram em June na época anterior. O episódio traz sim, uma June enfrentando as consequências e toda a culpa agora, em Gilead. Esse detalhe, mesmo que mostrado rapidamente, comprova a razão pela qual ela não poderia ser uma econopeople, uma adúltera não poderia entrar para essa classe de Gilead, se fértil seria aia como June é, caso contrário seria colocada para morrer nas Colônias.

O colapso de June em Offred é ágil durante o episódio, se intensificando ao decorrer da sua volta aos Waterford. Ela esquece sua June rebelde e se fecha em uma Offred submissa à opressão Gilead. No momento em que ela está rastejando no armário, temos uma lista de razões pelas quais ela gostaria de desaparecer em Offred e se livrar da sua própria história. Ao final temos June saindo de casa, ignorando Nick a chamando pelo nome e a agora Offred repetindo a frase de cumprimento Gilead "Fomos abençoadas por um bom tempo". 

Texto escrito para The Handmaid's Tale Brasil, reviews sempre as quartas, mesmo dia da entrada do episódio no catálogo do Hulu. Então, você percebeu algo que não está esclarecido aqui nessa review? Tem algo a acrescentar? Comente abaixo sua opinião sobre o episódio.