O episódio 11, como já era esperado, foi focado nos momentos anteriores ao parto e no próprio nascimento de Holly, sim, o mesmo nome da mãe de June. Mas aqui o brutal já não é mais comandado por Fred ou Serena, é June que comanda o horror de The Handmaid’s Tale. "Sinto muito que haja tanta dor nesta história", ela narra no início do episódio. "Mas não há nada que eu possa fazer para mudar isso. Eu tentei colocar algumas das coisas boas também."

O episódio envolve um dos arcos cruciais da segunda temporada de forma quieta e tensa. Como em outros momentos, quase que sem palavras. Repleto de June, uma só mulher, carregada de simbolismo - definitivamente, uma sequência em especial nos faz pensar que isso seja o melhor de Elisabeth Moss. O episódio dessa semana continua do anterior, com June deixada sozinha na neve e um bebê a caminho. Nick foi levado embora - não temos sinal algum dele aqui, e não há sinal de outro alguém voltar para encontrar June. Ela corre em direção a um banheiro fechado, depois até uma garagem trancada, passando por um lobo a encarando, que a deixa seguir em frente sem mais problemas. Ela volta a mansão onde antes teve um rápido encontro com Hannah, mas agora vasculha gavetas e armários, aparentemente sem um objetivo. Até que encontra fotografias e desenhos de Hannah, que a fazem lembrar de um momento em que teve que deixar a filha na escola, soluçando - é gritante a dor de se separar quando não queriam se separar. Para June isso é mais difícil que normalmente, ela viveu isso há poucos instantes.

Em meio a emoção ela acaba encontrando as chaves de um carro e, em seguida, entra na garagem. Ela liga o carro e suspira em quase catarse ao sentir o estrondo, motor e rádio funcionam. No rádio ouve uma voz forte lendo as notícias, sorrindo enquanto as manchetes passam rapidamente. "Agora, uma música para lembrar a todos que estão ouvindo, patriotas americanos ou traidores de Gilead", diz a voz. "Ainda estamos aqui." Hungry Heart de Bruce Springsteen toca em bom volume. É uma imagem poderosa, June senta em silêncio enquanto absorve a composição "Nós nos apaixonamos, eu sabia que tinha que terminar. Nós pegamos o que tínhamos e rasgamos". Particularmente, essa era uma das grandes cenas esperadas por esse que vos escreve, eu e quem mais leu o livro deve ter lembrado da rádio que foi mencionada também no livro, Radio Free America, a voz da Resistência. Mas há um fato que deixa isso tudo ainda melhor, a pessoa que faz a voz de locutor da rádio é Oprah. Sim, a mesma que entregou o Emmy 2017 a Elisabeth Moss por Melhor Atriz em Série Dramática por The Handmaid’s Tale.

A voz reconhecível de Oprah oferece um pouco mais de otimismo à cena. June sai do carro com uma nova determinação. Volta para a casa indo para o quarto principal, passa por algumas roupas em um armário, primeiro de uma esposa e simplesmente ignora com desprezo até que encontra uma jaqueta e a coloca, acariciando a barriga em frente do espelho. Aqui temos um flashback de June grávida de Hannah se vestindo para uma festa com Luke, só amor e esperança. Infelizmente, a alegria é interrompida, um carro se aproxima. Ninguém mais, ninguém menos do que Serena e Fred, com uma fúria audível. Eles andam com passos pesados como se ninguém estivesse na casa, June desaparece. Fred sugere que voltem, mas a voz ‘quero meu bebê’ de Serena fala mais alto, continuam procurando sem sucesso. Serena decide bisbilhotar, confiante de que sua aia ainda está ali. A câmera apenas acompanha os paços de Serena, é tenso não saber onde June está. A esposa de Fred chega ao quarto, onde June pegou a jaqueta e pelo espelho onde June se observava, vê a capa de aia no banheiro. Serena grita por Fred, é uma sequência cheia de raiva. O casal joga a culpa um no outro, Serena dizendo que Nick e June fugiram juntos, enquanto Fred diz que June não teria continuado tentando fugir se Serena mostrasse sua bondade. Então Serena joga verdades na cara do marido, "Você a estuprou ontem", enquanto June ouve bem acima deles. O enfrentamento aumenta gradativamente, até que Serena desabafa. "Eu desisti de tudo por você e pela causa. Eu só queria uma coisa em troca, eu queria um bebê... Você me deixou sem nada. Eu não tenho nada."

Enquanto em baixo, a discussão se aquece, June está lá em cima se preparando para algo drástico, mas que convenhamos - queríamos muito que acontecesse: ela encontrou uma espingarda em uma caixa. Abre e carrega, chega ao ponto em que tem um tiro certeiro em ambos, Serena e Fred na mira. Mas quando Serena chora, June treme, acorda para o que está prestes a fazer. Os Waterford saem, já que não deveriam estar lá, June abaixa a arma. Tempo suficiente para o carro de Fred se afastar, June novamente perambula para o lado de fora. É claro que ela está lutando por algo neste momento. Prepara uma mochila com vários itens de sobrevivência e volta para o carro da garagem. Mas a porta está trancada, não há eletricidade e ela não tem forças para abri-lo manualmente. Então liga o carro, acelera o motor e o coloca contra o portão. Não foi dessa vez. Ela tenta novamente. Nem dessa vez. Terceira vez, ela apenas mantém o pé no acelerador - o rugido do motor se tornando irresistível. June finalmente desiste momentaneamente. Vai até o lado de fora para retirar a neve, o que a leva apenas a um destino: escorregar e se desgastar. O 'não' que ela diz para si mesma só exprime uma coisa: está prestes a ter o bebê.

De volta à casa ela se coloca mais bem possível, acende a lareira e coloca um cobertor no chão. Ela grita de dor, ofegando e gemendo, tentando se acalmar. Trechos de sua gravidez anterior continuamente se infiltram. Primeiro, June com sua mãe Holly (Cherry Jones, uma agradável e sábia volta, era para ser apenas um episódio), que está tentando fazer com que sua filha tenha o bebê por um meio alternativo, fora de um hospital. Mas June quer médicos, remédios, enfermeiras e muitas drogas. Holly também promete que estará junto de sua filha quando ter o bebê, mas June lhe diz que não faça promessas que não pode cumprir. Mais tarde, June, agora se aproximando do nascimento da bebê é colocada em meio as cenas de sua primeira experiência de parto, Luke e Moira a cercando no hospital, tocando sua playlist favorita de música, a encorajando.

A partir daí o maior clímax da temporada: o grande parto de June tão bem interpretado por Elisabeth Moss, respiração pesada, seus sorrisos escapando dos gritos. Há lembranças de sua vida em Gilead, aulas de parto com Tia Lydia no Centro Vermelho embalado por "respire, respire, respire; empurre, empurre, empurre." Ela se lembra de quando Janine teve seu bebê. Se lembra de quando, depois que Hannah nasceu, Holly correu para o quarto do hospital, aparecendo depois de tudo, muito feliz. Esses são momentos cruciais dela, que formam pilares de sua vida e que culminam no momento presente. June sem roupa, como se estivesse voltando às origens do ser humano, solta um grito prolongado, depois outro e outro. E então a bebê nasce!

Antes do parto, June percebeu que estava se colocando em perigo sozinha, a dor estava difícil de suportar e o cobertor estava coberto por sangue. June sabe de sua responsabilidade com a bebê, saiu, fechou os olhos com o lobo a seu lado e atirou no ar. De volta ao nascimento da bebê, June a chama de Holly, o mesmo nome de sua mãe. É quando olha para sua filha mais intimamente, e é apropriado que ela lhe desse esse legado. June beija e embala sua bebê, sorrindo. Faróis de carros brilham lá fora. O episódio se encerra com June dizendo: "Nós fizemos isso, Holly". Certamente é até mais do que esperávamos do nascimento da filha de June, sem Serena ou Fred ou Gilead, é algo poderoso e que nos traz esperança.

Texto escrito para The Handmaid's Tale Brasil, reviews sempre as quartas, mesmo dia da entrada do episódio no catálogo do Hulu. Então, você percebeu algo que não está esclarecido aqui nessa review? Tem algo a acrescentar? Comente abaixo sua opinião sobre o episódio.